sexta-feira, 14 de outubro de 2022

O atalaia

Dia 2 deste mês, achava-me na fila, por volta das 7h30, esperando minha vez de votar no candidato 22. Fui surpreendido por um antigo colega de trabalho na imprensa roraimense, onde transitei por 32 anos. Não. Não se tratava de um simples colega. Era muito mais que isso. Considerado irmão, a quem havia muito não o encontrava. 

Esse amigo veio ao meu ouvido e disse-me baixinho, em tom professoral: "Vote em qualquer um para presidente, desde que seja no Lula". Confesso que fiquei um tanto atordoado com a proposta. Não tive tempo de processar aquilo que ouvira. Foi algo inesperado, de supetão. Quando ele já ia distante, a minha reação foi responder-lhe com um sonoro monossílabo: NÃO!

Depois fiquei pensando como um ser humano bem formado intelectualmente e que se diz cristão pode aceitar as propostas desse candidato vermelho, que parece estar indignado com tudo e com todos os brasileiros. Que arrota diariamente sua verborragia para assegurar que, ao senta-se na cadeira mais importante do país, vai controlar as mídias. Não mais poderemos dizer o que sentimos e pensamos.

Não dá para entender que um cristão possa concordar com a matança de crianças, ainda no ventre materno. Ou seja, a legalização do aborto. O Salmo 139.16 cita: "Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir.".

O embrião em formação é um ser que carece de proteção. É uma criatura de Deus. Isaías 49.1b cita: "Desde o seio materno o Senhor me chamou; desde o ventre de minha mãe já sabia o meu nome.". Como um cristão pode compactuar com o ato de matar um ser que é precioso para Deus? 

Difícil entender que um cristão viva orando, rezando, pedindo a paz da cidade, e vote num candidato que diz com todas as letras que a polícia não deve prender uma pessoa que roubou um celular. Veja a palavra usada pelo candidato: "roubou". Diferentemente do furto, o roubo tem a conotação da violência contra a pessoa. Quantas pessoas perderam a vida ao ser assaltadas por ladrões de celulares!

Como um cristão pode votar num candidato que tem como programa de governo a liberação das drogas, que tanto mal tem feito às famílias brasileiras? Como um cristão pode votar num candidato que declara solenemente que vai tomar todas as armas da população, armas estas que, mantidas dentro da casa do cidadão, servem para inibir a ação da marginalidade?

Não, meu amigo do coração. Continuo mantendo por você, como pessoa, todo o respeito. Mas não posso concordar com sua orientação ideológica. Prefiro deixar para meus filhos e netos um Brasil livre das drogas, livre do escárnio, livre da esculhambação generalizada, livre da fome que tanto tem assolado os países que enveredaram por esse caminho do socialismo e do comunismo, 

Enfim, prefiro viver num país onde eu não precise estar sobressaltado com a possibilidade de ter minha casa invadida por um desconhecido qualquer e ter de mantê-lo, por uma imposição de governo. É por estas coisas que não posso votar em Lula. 

Sei que não vou mudar sua mente com estas palavras, mas estou fazendo a minha parte como atalaia de Deus (Ezequiel 33). Que Deus te abençoe.


segunda-feira, 30 de março de 2020

Coronavírus e segregação ilegal do idoso

Por Airton Florentino de Barros
É dever de todos e de cada um evitar o contágio pelo novo coronavírus.
Idosos, mais do que todos, dada a sua mais rigorosa formação, têm consciência de que é crime ofender a saúde alheia, transmitir moléstia grave, expor a vida ou a saúde de outrem a perigo iminente, causar ou propagar epidemia.
Aliás, sabe cometer crime contra a saúde pública o próprio médico ao deixar de notificar o órgão público competente acerca do aparecimento de uma doença infectocontagiosa.
Afinal, é a saúde pública direito social e, ao mesmo tempo, direito fundamental individual. Por isso, todo o cuidado é pouco. E é hora de salvar o máximo de vidas possível.
Se, de um lado, não pode o Estado se eximir de suas obrigações, deve cada cidadão, de outro, fazer da melhor forma a sua parte, no caminho da proteção geral de toda a sociedade.
Não se pode, porém, impor aos idosos responsabilidade que não é sua.
Só as pessoas de má-fé não reconhecem que, com exclusão daqueles que atualmente ocupam o comando do Estado brasileiro (todos com teste rápido, diagnóstico conclusivo da doença e UTI de elevada complexidade garantida nos melhores hospitais do país, além de hidroxicloroquina à vontade), os demais idosos nada puderam ou podem fazer para abrandar a propagação do surto epidêmico.
De sua parte, o Estado podia e devia fazer mais do que fez e tem feito. É que os governantes de há muito sabiam da gravidade da situação, pois o primeiro caso na China se deu oficialmente ainda no final de dezembro de 2019.
Fizeram-se de desentendidos, apesar de toda a globalmente noticiada movimentação do sistema de saúde e segurança daquele gigante asiático no combate à enfermidade.
Em 22 de janeiro, a OMS revelou ao mundo sua preocupação, requisitando informações imediatamente compartilhadas pelos chineses.
Dias depois, presenciando a situação desesperadora dos orientais, brasileiros imploraram ao governo o devido socorro, ainda nos últimos dias de janeiro, para voltarem da China. Cuidou o Executivo brasileiro então de conseguir do Congresso Nacional a chamada Lei de Quarentena, publicada em 6 de fevereiro, para em 9 de fevereiro receber os repatriados e submetê-los a quarentena em base militar sediada em Goiás.
A essa altura, a OMS já havia recomendado, em 30 de janeiro, a ação coordenada de todos os governos no combate à então ainda epidemia, denominada em 11 de fevereiro Covid-19.
Já dispunham as autoridades nacionais àquela altura o poder legal para isolar bairros, cidades, Estados, implantando barreiras com procedimentos sanitários e de segurança nas estradas, além da faculdade de fechar portos, aeroportos e fronteiras secas, já que não poderia ser desconsiderada a grande confluência de estrangeiros para as capitais brasileiras.
Se governantes tivessem cumprido a lei, nos seus exatos termos, várias regiões do país poderiam restar razoavelmente protegidas.
Não foi o que ocorreu. Continuaram as autoridades fazendo-se de desentendidas. Mais do que isso. Agiram irresponsavelmente.
Autorizaram a realização do carnaval, entre 21 e 25 de fevereiro, com as enormes aglomerações próprias dessa festa, que sempre atrai estrangeiros e nacionais de todos os cantos.
Em seguida, organizaram numerosa comitiva do primeiro escalão do governo para viagem aos Estados Unidos, entre 7 e 10 de março, mesmo depois da confirmação do primeiro caso de contagio em território nacional, formalmente reconhecido em 26 de fevereiro.
E, como era de se esperar, introduziram criminosamente no país, sem a obrigatória quarentena, novos casos de contágio, depois confirmados. Auxiliares diretos do presidente da República voltaram com teste positivo.
Ora, no dizer de Machado de Assis, não se toma o timão do Estado como se fosse um passeio de gôndolas venezianas ao som de bandolins.
Sabiam de tudo. Sabiam das consequências e da criminosa omissão. E nada fizeram.
Certamente, entenderam que, no campo político nada havia a ser feito, senão contar com o milagre da sorte. E nada havia a fazer porque o Estado brasileiro, depois da adoção, já na década de 1990, da cartilha do chamado Consenso de Washington, converteu-se em Estado-mínimo à conveniência de seus sequestradores, bancos e rentistas, que lhe subtraíram qualquer possibilidade de prestação pública de saúde, educação e segurança.
De fato, em que pese a existência do SUS, a saúde pública nacional ausenta-se do povo, sonegando-lhe hospitais, médicos e outros profissionais da saúde, remédios e próteses. Jovens e velhos, mulheres e crianças ficam na fila por meses por um procedimento de radioterapia na agonia de um câncer.
Agora, em plena curva ascendente de contagiados e mortos na trágica pandemia, não poderia ser diferente, só se agravando a calamidade da saúde pública brasileira.
Faltam testes, leitos, respiradores, enfermeiros, tudo o que é indispensável ao tratamento intensivo exigido pela mortal doença. E a situação não é muito diferente na saúde explorada lucrativamente por particulares.
Basta ver que os planos privados de saúde que, no último ano (que apresentou inflação praticamente zero), foram autorizados pela inoperante ANS a reajustar em 20% o que cobravam de seus segurados, frequentemente recusam requisições de exames e procedimentos hospitalares, sob o falso pretexto de elevada sinistralidade ou cláusula contratual de exclusão. E note-se que inúmeros deles se beneficiam ainda assim de espaços e recursos públicos.
Sob esse panorama, se mesmo governos mais seriamente comandados como os da Alemanha e Coreia do Sul, por exemplo, apresentam dificuldades decorrentes do elevado número de pacientes contagiados pela Covid-19, evidente que, para os governantes brasileiros, o melhor era mesmo fazer de conta que nada acontecia, esperando o momento conveniente para definir a quem falsamente atribuir culpa pela tragédia. Ou não é o que sempre acontece?
Não custa conferir.
Para não confessarem, depois da enchente, que não cuidaram das galerias de esgoto e nem limparam os bueiros ou falharam na fiscalização, afirmam os governantes que a população é que é culpada por jogar lixo em locais indevidos.
Para esconderem o fato de que não controlam a ganância dos bancos, preferem dizer que a população é culpada por forçar a elevação da taxa de juros com o alto índice de inadimplência.
Para não admitirem a falta de política de emprego, atribuem à população a culpa pelo desemprego, afirmando que os cidadãos encontram-se desempregados em razão da falta de qualificação… e assim por diante.
É o que se anuncia mais uma vez. A falta de leitos nos hospitais é culpa da população idosa, que já sobrecarrega demasiadamente a saúde pública e, no apogeu da crise, sobrecarregará mais ainda.
Na verdade, na crítica fase da peste, faltariam leitos com ou sem idosos na sociedade.
Mas esse não é o raciocínio. E, portanto, se os velhos são culpados, merecem punição, sendo justo, esse o raciocínio, que lhes seja imposto o deprimente e claustral recolhimento. Que sejam, pois, segregados da sociedade.
É certo que, na teoria, o distanciamento social é geral, mas em relação aos idosos a campanha é radical, chegando alguns governantes regionais e locais a decretar verdadeira caça aos velhos “infratores”, tal qual a carrocinha em busca de cães abandonados, mas com ameaça de multa e até prisão.
Essa perseguição exclusiva ou mais intensa aos idosos, todavia, além de ilegal, é absolutamente imoral.
A Constituição Federal, seguindo a Declaração Universal e a Convenção Interamericana de Direitos Humanos, sobretudo em matéria de restrição de direitos, veda qualquer discriminação decorrente da idade do cidadão. Além disso, o Estatuto do Idoso, inspirando-se na CF, exige que se assegure às pessoas velhas a liberdade integrante de sua dignidade, a fim de garantir-lhe higidez física e moral.
Tanto que a chamada Lei da Quarentena, para evitar inconstitucionalidade, sem fazer distinção de idades, definiu como isolamento a separação de pessoas doentes ou contaminadas e, como quarentena, a restrição de atividades ou separação de pessoas suspeitas de contaminação das sadias, não permitindo a reclusão compulsória dos idosos, o que só seria possível com a decretação do estado de sítio, absolutamente incabível para a hipótese, além de perigosa para a atual situação político-institucional do país.
Ainda é necessário considerar que a cidadania é um atributo que assegura reciprocidade de tratamento na relação entre administração pública, por seus gestores, e o indivíduo pagador de tributos, de modo que um deles só tenha o direito de exigir do outro o cumprimento de deveres se suas próprias obrigações legais estiverem sendo rigorosamente cumpridas. E o Estado até aqui não vem cumprindo obrigações mínimas, abandonando o povo ao salve-se quem puder.
De qualquer maneira, tenham todos a certeza de que o idoso não precisa que lhe mandem proteger-se para proteger a todos. Não precisa que lhe imponham compulsoriamente pela lei o que já cumpre por dever moral.
Acontece que, mesmo o idoso que não tenha o menor medo da morte sabe que deve respeitar o direito de sobrevivência das pessoas próximas e daquelas de quem gosta.
É da plena consciência dos idosos que, numa enorme e desorganizada fila destinada a alcançar poucas e insuficientes vagas de leito de UTI, a prioridade é salvar a vida dos mais jovens. É, aliás, da programação biológica que os seres vivos mais velhos, na inevitável luta pela preservação da espécie, devem destinar todas as suas energias à sobrevivência das novas gerações.
Nem esperam os idosos qualquer gratidão pelo que eventualmente tenham produzido de bom para as novas gerações, até porque a gratidão é sentimento efêmero que, se existente de fato, dura talvez poucos minutos, sobretudo numa nação sem sentimento de consanguinidade e, então, para acreditar em Euclides da Cunha, sem a necessária formação moral coletiva.
Assim é também com os seres ditos irracionais.
Para Catulo da Paixão Cearense, em sua Mata Iluminada, quando o filhote de sabiá é preso em armadilha, seus pais continuam a alimentá-lo pelas frestas da arapuca. Quando, no entanto, os pais é que são aprisionados, os filhotes por perto nem passam.
A crueldade da natureza, por paradoxal, é também a maravilha da natureza.
O certo é que nenhum ancião quer ver a morte de filhos e netos. E ninguém tem o direito de duvidar desse sentimento dos que aqui chegaram primeiro. Não há nada mais triste do que a inversão dessa ordem natural.
Porém, o que não podem os idosos aceitar em hipótese alguma é a disfarçada mentira ou a cruel hipocrisia, muito menos na arena de uma forjada guerra de gerações que já se acirra desde as últimas reformas previdenciárias, com a mentirosa propaganda no sentido de que, num mal denominado regime de partilha, ainda mais com o aumento de expectativa de vida, os já improdutivos idosos seriam sustentados, na fase de inatividade, pela jovem classe trabalhadora ativa e produtiva. Daí a injusta acusação de culpa da população anciã pelo fabricado déficit das contas públicas.
Essa a versão dos desonestos governantes na vã tentativa de ocultar os desvios e o roubo dos recursos da previdência pública e social.
Ali também não deram voz aos idosos para a réplica.
Na verdade, nunca houve no país o assim definido regime previdenciário de partilha. Os idosos é que individualmente, com o seu próprio trabalho e suas contribuições obrigatórias constituíram suficiente capital de renda para dele extrair aposentadoria vitalícia, pouco importando a expectativa de vida, já considerada pelos rigorosos cálculos atuarias correspondentes.
Na verdade, nenhuma aposentadoria de idoso no país é coberta por contribuições de trabalhadores da ativa. E, na mídia, acabou prevalecendo essa mentira que, de tão grave, deu ao idoso o estigma de vilão da sociedade.
Agrava-se agora a guerra de gerações financiada por governantes novamente interessados em esconder as próprias responsabilidades.
O idoso desta vez é culpado pela falta de vagas de UTI para o tratamento da Covid-19.
Querem que os idosos fiquem reclusos, sob pena de sanções civis, penais e administrativas. Mas o pior são os olhares de censura e às vezes de advertência quase agressiva quando, ainda que por extrema necessidade, é ele obrigado a pôr os pés para fora de casa.
É como se, por tirânica medida, todos os idosos fossem colocados num imaginário campo de concentração, sem necessidade de carimbo de identificação no pulso, visíveis que lhes são os inegáveis sinais da velhice.
Não se trata de simples tornozeleira oculta sob as barras da calça. Nem se trata de fuga de um presídio, caso em que o fugitivo pode misturar-se à multidão sem ser percebido. Dessa prisão, mesmo escapando, não se pode escapar. Praticamente uma perseguição nazifascista.
Notoriamente equivocados os que pensam que jovens e idosos ocupam lados opostos no combate ao novo coronavírus, porque a todos indistintamente interessa salvar o máximo de vidas possível.
Inaceitável, portanto, a tentativa governamental de, com ilegal discriminação, impor aos idosos muito mais rigoroso isolamento ou distanciamento social, ainda mais com o manifestamente falso discurso de que essa medida teria como principal objetivo protegê-los da doença.
Se segmentos da sociedade insistirem nesse desumano tratamento discriminatório pode parecer que, ao contrário, pretendem o distanciamento dos idosos, não dos infectados, mas do socorro médico, para que morram em casa sem perturbar ainda mais o andamento da fila para as unidades hospitalares de tratamento intensivo. E ainda que isso fosse possível, de nada adiantaria, pois o genocídio que se avizinha, pelo visto, não concede privilégios.
Estejam todos certos de que a verdade, o respeito e a dignidade são bens mais preciosos ao idoso do que qualquer suposta prioridade no tratamento da referida doença fatal.
O que se espera, no final, é que as forças da natureza protejam o planeta e as novas gerações e que essa tragédia do novo coronavírus transforme os seres humanos em seres mais humanos.
 Advogado, professor de Direito Comercial, fundador e ex-presidente do MPDemocrático. (Transcrito do site folha.uol.com.br - https://blogdofred.blogfolha.uol.com.br/2020/03/30/coronavirus-e-segregacao-ilegal-do-idoso/)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Me tira o tubo

O céu é o limite para a sanha arrecadatória da Prefeitura de Boa Vista. Não à toa, o chicote desanda a lamber obstinadamente as costas dos indefesos contribuintes – eu sou um deles. Simples análise feita aleatoriamente por qualquer macaco parcialmente amestrado põe a nu essa assertiva.


As deliberações que emanam do paço (eu, hein!) municipal não têm outro alvo senão o bolso do já extorquido munícipe (bota antigo nisso!). Estupefaciente (credo!)? Sim. E vai além. Em todas as ações vê-se claramente a vontade arraigada de depenar, depenar, depenar até o último. 


Não é brinquedo, não. O Diário Oficial do Município (DOM) nº 4417, do dia 2 de junho de 2017, tornou pública a portaria nº 112/2017, assinada pelo secretário municipal de Segurança e Trânsito (SMST), para normatizar a avaliação e os indicadores das atividades desenvolvidas pelos agentes municipais. 


Em cumprimento à bendita portaria, os agentes de trânsito passaram a ser avaliados conforme Indicadores de Avaliação de Produtividade, ou seja, de acordo com o número de multas aplicadas por mês, sendo elas, provenientes de fiscalização e de abordagens a condutores. 


Não deu outra. Até hoje é grande o festival de multas, as mais multifacetadas. Umas aplicadas até porque o motorista dirigiu com uma única mão ao volante. Não importando se a outra estava na alavanca de câmbio – nos carros da plebe (arre!), isso é a coisa mais que natural.


E as corujinhas, hein? Quem é o digno motorista que dirige em Boa Vista e nunca foi bicado por uma ‘corujinha’? Sem falar que umas, matreiramente, postam-se escondidas por detrás de mangueiras e ipês amarelos ou vermelhos.


Mas a sanha arrecadatória do paço (de novo!) não se restringe ao trânsito. A Eliana é dona de salão de beleza. Quer se aposentar no início do ano que vem. Faz uns dois anos, ela foi pilhada por um fiscal da Vigilância Sanitária do Município. Achou um frasco de sei lá o quê vencido havia um mês na prateleira do estabelecimento. O valor do tal frasco na loja não chegava a cobrir um corte de cabelo. De homem, o mais barato. Multa de pouco mais de R$ 1 mil emitida e não paga. Foi derrubada pelos argumentos de Fernando Matos. Eita advogado porreta! 


Nesta semana recebi a ilustre visita de um fiscal municipal – devidamente autorizado. Entregou-me uma notificação. Aos costumes, eu estou intimado, a pagar a besteirinha de 200 Unidades Fiscais do Município, as famosas UFMs. Sabe quanto custa cada uma? Só R$ 2,88. Ou seja, o município pretende me deixar R$ 576 mais pobre. 


O bom vem agora: trata-se de uma multa por eu ter deixado um “Lote de terra sem a devida limpeza, conforme visita realizada no dia 12/11/2018 por meio de mapeamento de lotes sujos no bairro”. Não cita o bairro nem o nome da rua em que tal lote de terra está localizado. Mas eu descobri pela ‘Insc. Cartográfica’ – assim mesmo, ‘insc.cartográfica’.


Para aplicar a multa, a Prefeitura passou por cima do dispositivo constitucional que me dá o direito de ampla defesa e do contraditório. Não fui sequer advertido da lambança. E olha que eu sou pavloviano (eita!) quando o sentido é obediência civil.


Só para se ter uma ideia do que é isso, há dois meses fiz um negócio que, acho, ninguém faria. Pelo menos os meus chegados me criticaram por tê-lo feito. Fui tido por ‘babaca’. A minha conta d’água chegava havia três ou quatro meses com o mesmo valor. Muito baixo. O que se costuma chamar de taxa fixa para os consumidores sem hidrômetro. Fui à Caerr para saber o motivo. No mês seguinte, chegou o papel me cobrando cerca de três vezes mais. Toma, babaca!


Mas deixando a Caerr pra lá, voltemos à voracidade arrecadatória da Prefeitura de Dona Teresa. Pela ‘insc cartográfica’, a multa diz respeito a um terreno de minha propriedade localizado no bairro Santa Tereza. 


Esse bendito, só neste 2018, mandei limpar três vezes. Para isso, a Eliana comprou em Lethem (Guiana) uma roçadeira similar às nossas Stihl 220, e colocou nas mãos de um chegado que vive disso. Usa para trabalhos particulares. Quando os nossos, cobra um pouco menos. 


Ao divagar aqui, veio-me à mente um quadro do programa ‘Viva o Gordo’, dos anos 1980. Jô Soares fazia a personagem de um sujeito que voltava à consciência após anos em coma. Quando as pessoas lhe contavam as notícias, ele não acreditava e usava o bordão "me tira o tubo", com um sotaque carregado, o que dava a graça da coisa, para mostrar que não concordava com o que estava acontecendo no Brasil e no mundo. 


Agora, eu digo o mesmo. “Me tira o tubo”, que eu não estou acreditando no que está acontecendo em nossos dias. A Prefeitura se preocupa com o meu terreno que teve o mato alto num determinado momento – quando chove a terra fica fértil e nasce tudo, até mato –, mas se esquece que eu, de vez em quando, levo prejuízo pelos buracos nas ruas. Tem um ali na frente do Parque Anauá, a menos de 200 metros da desavergonhada corujinha. Já vai fazer aniversário. O bicho é pequeno, mas fuuuundo. 


Já tive prejuízos também com tampas de bueiros instaladas abaixo do nível da pista de rolamento. Isso a Prefeitura não vê. Ah, isso é responsabilidade da Caerr. É mesmo, é? Mas eu não pago IPTU para a Caerr consertar buraco de rua. 


Acho que é melhor parar por aqui com essa prosa. Vou entrar com recurso para ver se me livro dessa escrachada multa de 200 UFMs. Espero ter argumentos para sensibilizar a autoridade. Afinal, autoridade é autoridade, e pronto.

terça-feira, 6 de novembro de 2018


Mulheres de militares estaduais acampadas no Centro Cívico recebem visita de Denarium
Por Francisco Espiridião
O governador eleito Antonio Denarium visitou na manhã de hoje (5) o acampamento formado em frente ao Palácio Senador Hélio Campos, onde se encontram cerca de 50 famílias de servidores civis do Estado e de policiais e bombeiros militares, reivindicando o pagamento dos salários dos meses de setembro e outubro. O acampamento foi montado na tarde de terça-feira (30 de novembro).
As famílias, que tiveram como porta-voz Flávia Aguiar, esposa de um policial militar, disseram ao governador eleito que estão vivendo o mais completo abandono das autoridades dos três poderes do Estado. “Essa situação é desumana. Estamos, aqui [acampados] desde a tarde do dia 30 de novembro sem receber qualquer resposta do poder público”.
Flávia explicou a Denarium que é humilhante saber que os militares [homens e mulheres] saem todos os dias para trabalhar, para servir a esta sociedade, sendo que “os poderes não nos servem quando precisamos”. Disse também que cada uma das mulheres ali tem uma história. Muitas já estão sem dinheiro até mesmo para comprar um pão para o filho. 
“Nunca tivemos uma resposta do poder público. Nem aqui, nem ali, nem ali”, disse, apontando para o Palácio Senador Hélio Campos, Tribunal de Justiça e Assembleia Legislativa. “Estamos aqui, governador, na esperança de dias melhores e esta esperança está depositada no senhor”, disse, acreditando que, mesmo ainda não tendo tomado posse, Denarium interceda por eles junto à governadora Suely Campos.
Para Flávia, a situação se resume em que hoje, o governo deixou a categoria militar estadual, seja bombeiro ou policial, desassistida. “Hoje, o policial militar não tem como ir ao mercado para comprar os alimentos pra família dele. Hoje, tem famílias de PMs e bombeiros que estão com energia cortada, linha de telefone cortada, qualquer dinheiro que entrar é só pra suprir as necessidades. Agora, você imagina: um policial militar que tem esposa também policial militar, como estão sobrevivendo? Essa é a nossa realidade”.     
MODELO DE GESTÃO
Denarium iniciou sua fala agradecendo à população pelos 136.612 votos que recebeu no pleito de 28 de outubro. “Nós vamos entrar agora no novo governo com uma forma de mudar o modelo atual de gestão. Começamos a trabalhar no primeiro dia depois da nossa eleição. Inclusive, nunca teve emenda de bancada para investir na segurança pública... Nós já tivemos uma reunião em Brasília com os três senadores e os oito deputados federais como forma de alavancar mais recursos para o nosso Estado”.
“Estamos sensibilizados com a situação em que se encontra hoje o governo do Estado, principalmente com os servidores, que têm salários atrasados desde o mês de setembro”, destacou o governador eleito, pregando uma palavra de esperança: “Agora, somos nós todos por Roraima. É um novo sentimento, é um novo modelo, e, para que a gente possa fazer uma boa gestão, eu preciso do apoio popular, do apoio das pessoas que acreditam no nosso trabalho”.
Denarium explicou ainda às mulheres acampadas na Praça do Centro Cívico que está entrando no governo sem nenhum interesse pessoal. “O meu interesse é coletivo, de resolver os problemas do Estado de Roraima. Gostaria muito de contar com o apoio de vocês para que possamos sensibilizar os poderes, principalmente os parlamentares, para as mudanças que pretendemos fazer”.

domingo, 28 de outubro de 2018

Histórias que valem ouro

O texto que segue foi escrito pelo jornalista Aroldo Pinheiro, em 8 de setembro de 2011, publicado no blog Fato Real, de Wirismar Ramos. Serve como recordação...
"Sem nenhum incentivo oficial, enfrentando adversidades, o jornalista Francisco Espiridião Chagas lança seu terceiro livro, às 20h desta sexta-feira (9), no hall da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR). “Histórias de Garimpo – Extração mineral em terras roraimenses” (Editora TIPOGRESSO (CE), 163 páginas, R$30) relata experiências vividas pelo próprio durante a fofoca de ouro havida em Roraima entre os anos 1980 e 1990.
Espide (como o autor é conhecido no meio jornalístico) traz histórias interessantes e bem humoradas sobre garimpeiros e compradores de ouro no Estado de Roraima. Causos de bamburrados e de brefados, com rápidas e profundas críticas à política indigenista acobertada por nações do Primeiro Mundo.
Centenas de aviões ocupando todos os locais disponíveis na cidade de Boa Vista, homens em busca de riqueza chegando de todos os recantos, conversas sobre garimpeiros tirando quilos de ouro do solo roraimense levaram o sargento da Polícia Militar e um grupo de amigos a sonhar e, durante período de férias, sair em busca do que não perderam. A aventura é narrada do jeito simples e cativante que Espide usa em livros anteriores: “Até quando? Estripulias de um Governo Equivocado” (2004), e “Histórias da Redação” (2008).
Natural de Rondônia, policial militar da reserva remunerada, graduado em Jornalismo pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), Espide vive em Boa Vista desde 1974. Dos grotões, o garimpeiro não trouxe nem febre, mas o desconsolo inspirou-o a produzir textos que prendem o leitor do começo ao fim.
AROLDO PINHEIRO – Jornalista (e-mail: zepinheiro1@ibest.com.br)"

domingo, 30 de setembro de 2018

Por que artistas e intelectuais gostam tanto da esquerda

"Orientação ideológica vem da influência do ambiente em que eles são formados, que molda sua visão de mundo segundo antigos princípios marxistas"

Tiago Cordeiro especial para a Gazeta do Povo

[Texto publicado pela Gazeta do Povo, em 25/09/2018]

“É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial”.

É o que diz um manifesto que se posiciona contra o candidato à presidência Jair Bolsonaro assinado por mais de 300 intelectuais e artistas, incluindo Alice Braga, Caetano Veloso, Camila Pitanga, Drauzio Varella, Miguel Reale Jr., Fernando Morais, Laerte e Maria Gadu.

O texto, apresentado neste fim de semana, conclui: “Por isso, estamos preparados para estar juntos na sua defesa [da democracia] em qualquer situação, e nos reunimos aqui no chamado para que novas vozes possam convergir nisso. E para que possamos, na soma da nossa pluralidade e diversidade, refazer as bases da política e cidadania compartilhadas e retomar o curso da sociedade vibrante, plena e exitosa que precisamos e podemos ser”.

Em reação, partidários de Bolsonaro lançaram a hastag #RouanetNão, em referência ao uso da lei de captação de recursos públicos da parte de artistas consagrados, e alcançou os trending topics do Twitter nesta segunda-feira, dia 24.

Intelectuais e artistas brasileiros se manifestam com frequência. Em janeiro, um grupo formado por artistas de TV, como Herson Capri e Bete Mendes, criticou o julgamento de Lula. Em março, mais de 400 artistas, juristas e intelectuais, caso de Fábio Konder Comparato, Marieta Severo, Martinho da Vila e Dira Paes, defenderam a candidatura de Luís Inácio Lula da Silva.

Em abril, mais de cem artistas e intelectuais assinaram um manifesto contra a prisão de Lula. Entre os signatários estavam Andrea Beltrão, Luiz Carlos Barreto e Laís Bondanzky. Já em julho, Chico Buarque, Gilberto Gil e Beth Carvalho cantaram, no centro do Rio de Janeiro, a favor do ex-presidente petista durante o Festival Lula Livre.

Mas por que isso acontece? Por que tantos intelectuais e artistas são alinhados às pautas de esquerda?

“Corrupção intelectual”
Existem também artistas e intelectuais de direita, e ambas as escolhas são legítimas. Nos últimos anos, alguns alcançaram um alto grau de repercussão em suas posições — por exemplo, os músicos Lobão e Roger Moreira e a atriz Regina Duarte. Até mesmo Jair Bolsonaro conta com apoiadores no meio: Amado Batista, Alexandre Frota, Eduardo Costa, Danilo Gentili e Gusttavo Lima.

Mas os artistas e intelectuais alinhados à direita ainda são minoria. Talvez seja pelos riscos que os artistas correm quando tomam qualquer posição. A cantora Anita, por exemplo, ficou no centro de uma controvérsia após começar a seguir nas redes uma velha amiga que apoia Bolsonaro. Ela apareceu num primeiro momento dizendo que não estava interessada em dar opinião e depois — apesar da declaração inicial — aderiu à campanha anti-Bolsonaro. É o fenômeno da patrulha ideológica: personalidades são instadas pelos manifestantes a tomarem posições políticas, mesmo que isso aconteça muitas vezes a contragosto.

Do Leblon à USP, passando pelos principais estúdios musicais e distribuidoras de cinema, os adeptos da esquerda dominam o cenário. O doutor em antropologia social e colunista da Gazeta do Povo Flavio Gordon aborda o assunto em seu livro “A Corrupção da Inteligência - Intelectuais e Poder no Brasil”, lançado em 2017.

Em seu livro, Gordon afirma que a adesão da intelectualidade à esquerda é um caso claro de corrupção: “(...) é uma forma de corrupção que — ao contrário daquela com a qual os brasileiros estamos mais que habituados, praticada sobremaneira pela classe política e noticiada diariamente nos jornais — é pouco discutida, ou talvez sequer notada”. E continua: “Não se a discute de maneira franca e responsável, porque os seus agentes são, precisamente, os que detêm o monopólio do discurso público. São eles quem, regra geral, têm os meios e a legitimidade social para analisar, debater e, por fim, denunciar os problemas brasileiros”.


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O autor vê uma diferença entre a corrupção intelectual e a tradicional: no primeiro caso, os intelectuais não são beneficiados. Eles “são, ao mesmo tempo, os corruptos, os corruptores e, paradoxalmente, as primeiras vítimas do fenômeno”, defende, e prossegue: “ao contrário da corrupção político-econômica, essa corrupção não traz benefícios (senão apenas ilusórios) para o corrupto, mas, ao contrário, corrói aquilo que ele tem de mais precioso: a sua inteligência, a sua razão, a sua consciência moral. A partir daí, o dano causado pela corrupção em questão alastra-se avassaladoramente, de maneira ondulatória, debilitando a cultura como um todo.”

Flavio conclui: “O Mensalão e o Petrolão foram a expressão, na política, da hegemonia que a esquerda conquistara na cultura”.

Formação deturpada
Mas em que momento esse tipo de corrupção tomou conta do setor? Décadas antes, o filósofo, sociólogo e cientista social francês Raymond Aron já se debruçava sobre este assunto. É de sua autoria o clássico O Ópio dos Intelectuais, datado de 1953, apenas dois anos depois da morte do ditador soviético Josef Stalin.

A ditadura comunista comandada por Stalin já havia mandado até então milhões de dissidentes e inimigos do regime aos campos de prisioneiros na Sibéria, porém ainda havia intelectuais dispostos a defendê-la. Um deles era o filósofo Jean-Paul Sartre, que chegou a dizer que não ficava envergonhado com os gulags soviéticos. "Nós podemos ficar indignados ou horrorizados diante da existência desses campos [de concentração soviéticos]; nós podemos até ficar obcecados por eles, mas por que eles deveriam nos constranger?” Sartre não parou por aí: “Um regime revolucionário deve descartar um certo número de indivíduos que o ameaçam, e não vejo outro meio para isso, a não ser a morte.”

Para Aron, num momento inicial, parece que os intelectuais entendem tão pouco de política quanto outras categorias profissionais. “Quando observamos as atitudes dos intelectuais em política, a primeira impressão é a de que elas se parecem com as dos não intelectuais. A mesma miscelânea de informações incompletas, preconceitos tradicionais e preferências mais estéticas do que racionais se manifesta tanto nas opiniões de professores ou escritores quanto nas de comerciantes ou industriais.”

“O comunismo se desenvolveu a partir de uma doutrina econômica e política, em uma época em que declinavam a vitalidade espiritual e a autoridade das igrejas. O fervor que, em outras épocas, poderia se exprimir em crenças propriamente religiosas tomou como objeto a ação política”, diz Raymond Aron. “O profetismo marxista traz em si a condenação daquilo que é e esboça uma imagem do que deve ser e será, e escolhe um indivíduo, ou um grupo, para vencer o espaço que separa o presente indigno do futuro fulgurante”.

A visão crítica dos intelectuais ocidentais das últimas décadas é nublada pela visão marxista de história, com seus ideais que, se parecem perfeitos na teoria, na prática não funcionam, como tantos exemplos ao redor do planeta comprovam. Ainda assim, seus adeptos se apegam a ela, como um fiel a uma religião. (Existem poucas exceções, algumas notáveis, como o escritor peruano e vencedor do prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, ex-comunista e ex-apoiador da ditadura cubana, hoje forte crítico de ambos.)

Em palestra proferida em 2016, em Porto Alegre, durante o evento Fronteiras do Pensamento, Vargas Llosa explicou o motivo de tanta fascinação dos intelectuais e artistas com a esquerda. De acordo com o escritor peruano, artistas buscam a perfeição estética, seja na beleza dos quadros que pintam ou nos versos que escrevem. Politicamente e ideologicamente, o mais próximo disso é a utopia comunista, que promete um mundo igual, sem pobreza e desigualdade. Eis o fator de sedução do comunismo.

Evidentemente, explica Llosa, nenhuma nação que adotou o socialismo escapou da tragédia, da fome, da perseguição política. Enquanto o comunismo é bonito no papel, a democracia é complicada, difícil e sempre será imperfeita — difícil para a classe artística, preocupada com a perfeição teórica, compreender e adotar com entusiasmo. Mas, sem dúvida, o único sistema que dá a liberdade para estes mesmos artistas e intelectuais executarem seu trabalho e sua arte."

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/por-que-artistas-e-intelectuais-gostam-tanto-da-esquerda-f4vgyw5djbambj6j0trgi6b8a/

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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Energia elétrica

Roraima não sofrerá com um possível corte de energia elétrica vinda de Guri, na Venezuela. Quem garantiu isso foi o General Vladimir Padrino, ministro da Defesa daquele país, em conversa reservada com o seu colega brasileiro, também General Joaquim Silva e Lula. O encontro ocorreu meio que na surdina nessa terça-feira (11), em Puerto Ordaz, no Estado Bolívar, Venezuela.

"Não vai ter corte de energia e nunca vai ter corte nas nossas relações. Não é por causa disso que a Venezuela vai interromper o fornecimento de energia", disse a autoridade venezuelana ao ministro da Defesa brasileiro.

É mesmo? Só que não.

A assertiva do ministro de Nicolás Maduro não se sustentou. Hoje mesmo, um dia depois, a palavra foi quebrada. De acordo com a FolhaBV online, desde as 8h desta quarta o sistema de Guri está desligado.

Venezuela e Brasil têm relações diplomáticas cortadas desde dezembro do ano passado, quando o embaixador brasileiro foi expulso de Caracaras. Em seguida, em revide, o governo brasileiro expulsou o  representante diplomático venezuelano de Brasília.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Milagre!


FRANCISCO ESPIRIDIÃO *

O genial Cazuza cantou que “a fome está em toda parte mas a gente come, levando a vida na arte”. Na Venezuela, porém, isso não ocorre. Lá, esse milagre é pura utopia. Na verdade, crianças morrem às centenas por desnutrição. Dão o último suspiro em hospitais que não dispõem de uma cibalena.

A crise humanitária no país vizinho vem sendo usada pelo governo de Nicolás Maduro como arma para se perpetuar no poder, a exemplo de republiquetas africanas, onde os mandatários seguram o timão havia 30, 40 anos. E o povo, bem, o povo é mero detalhe.

De acordo com Ricardo Haussmann, ex-ministro de planejamento do país (1992/1993), em artigo publicado na Folha de S.Paulo nesta quarta-feira (3), “em vez de tomar medidas para pôr fim à crise humanitária, o governo de Maduro a está usando para reforçar seu controle político”.

E prossegue: “Recusando ofertas de ajuda, ele gasta seus recursos em sistemas militares de controle de multidões, fabricados pela China, para conter os protestos.”

É inegável: o governo venezuelano implantou, de fato, uma ditadura militar, onde a maioria dos organismos em funcionamento têm à frente oficiais das Forças Armadas e Guarda Nacional. Ao invés de buscar saídas para o que não está dando certo – quase sempre por incompetência do próprio governo –, Maduro simplesmente defenestra do posto um técnico e investe de poder um militar completamente alheio ao serviço, a exemplo do que ocorreu com o setor de petróleo. Hoje, gasolina é artigo de luxo.

A saída pela via da intervenção militar é também, hoje, algo temerário. A cúpula das Forças Armadas é formada por uma maioria corrupta até a alma, cujos oficiais mais graduados acham-se envolvidos havia anos com o contrabando, crimes monetários e propinas, narcotráfico e mortes extrajudiciais.

Enfim, a saída constitucional é coisa para as calendas gregas. A Assembleia Nacional, eleita pelo voto direto em junho de 2017, nem sequer chegou a se assentar no parlamento. Foi defenestrada do poder por uma Suprema Corte nomeada inconstitucionalmente.

Diante de todas essas considerações, o que sobra é uma Venezuela afundada no caos, conturbada em todos os sentidos, onde famílias disputam comida em sacos de lixo no Centro de Caracas, a Capital, e demais conglomerados humanos.

De acordo com relatório da Organização Panamericana de Saúde (Opas), milhares de famílias que podiam pagar pela comida, passaram, nos últimos três anos, a ter dificuldade para encontrar os alimentos nas prateleiras de supermercados e bodegas outras.

No mundo de Cazuza, “nossas armas estão na rua, é um milagre, elas não matam ninguém”. No de Maduro, Diosdado Cabello 'et caterva' elas são de fato letais, a exemplo da que matou uma jovem grávida, de 18 anos, numa fila para receber carne, neste fim de semana (31 de dezembro).

Milagre hoje é sobreviver na bolivariana república da Venezuela. Maior milagre, no entanto, é se escafeder de lá, mesmo que seja para pedir esmolas debaixo dos semáforos em Boa Vista.


(*) Jornalista e escritor; fe.chagas@uol.com.br 

Os aposentados do Brasil pagam a conta da corrupção

Coluna do Fraga - R7

O presidente Michel Temer tem defendido com veemência a aprovação da Reforma da Previdência. Em entrevista exclusiva à coluna, chegou a afirmar que, caso isso não ocorra, será necessário cortar pensões e vencimentos de servidores.

Mas o que Temer não diz é que os aposentados vão acabar pagando o pato pelo roubo dos políticos aos cofres públicos.
Um levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo revela que o buraco da corrupção no País é muito maior que o da Previdência (veja mais no quadro abaixo).

Só para efeito de comparação: enquanto o ministro Henrique Meirelles projeta uma economia de R$ 48 bilhões anuais com a reforma, a Fiesp apurou que as práticas corruptas drenam dos cofres públicos assombrosos 2,3% do PIB brasileiro. Assim, considerando os R$ 6,266 trilhões responsáveis por toda a riqueza que produzimos, em 2016, teríamos R$ 144,1 bilhões destinados à bandidagem.

Dito de uma maneira mais direta: o dinheiro tungado pelos corruptos é, exatamente, o triplo do que Temer e Meirelles pretendem economizar com a reforma da Previdência.

Isso mesmo.

O triplo.

Na bandalheira com a coisa pública, as cifras nunca são acanhadas.

Vejamos o caso do Rio de Janeiro. Lá, o delegado da Polícia Federal, Alexandre Ramagem, que integra o grupo da Operação Lava Jato, estipula que o esquema montado por Sérgio Cabral, deputados estaduais e grandes empresários fez com que o Estado deixasse de arrecadar inacreditáveis R$ 183 bilhões nos últimos cinco anos.
Mais uma vez, a economia com a reforma da Previdência perde de lavada para a corrupção.

Aliás, no Brasil, Previdência e corrupção sempre andaram de mãos dadas. O caso mais célebre foi o da ex-advogada Jorgina de Freitas. Na década de 80, em conluio com servidores, promotores e juízes, ela surrupiou R$ 2 bilhões, do INSS, em valor atualizado.

Jorgina acabou condenada e presa, mas quantas outras Jorginas gozam a vida por aí, enquanto milhões de trabalhadores perdem o sono?
Só os que costumam almoçar com a Fada do Dente podem imaginar que a corrupção na própria Previdência é coisa do passado.

Parece óbvio que a angústia provocada pela eventual reforma da Previdência seria desnecessária caso o combate à corrupção fosse uma política de governo.

Calcula-se que, em 2017, o déficit nas contas da Previdência poderá ultrapassar os R$ 200 bilhões, um aumento substancioso em relação aos R$ 149 bilhões de 2016, que já era bem mais parrudo do que os R$ 85,81 de bilhões de 2015.

Ministro da Previdência Social com Lula e depois com Dilma, Carlos Gabas reconhece o desastre dos números, mas diz que a proposta da reforma está equivocada, e que antes dela é preciso fazer a tributária. "Não se pode sacrificar o peão e deixar quem ganha um milhão por mês sem pagar nada", destaca.

Para Gabas, falta "transparência" ao Governo, que não teria coragem de tocar em privilégios incrustados no serviço público, como o pagamento de R$ 4,37 mil para os juízes a título de auxílio-moradia, e deixar que "97% do Ministério Público ganhe acima do teto".

A numeralha exposta pelo Governo assombra qualquer contador de esquina, mas será que a reforma da Previdência é, de fato, a única alternativa para acabar com esse rombo crescente?
Acredito que não.

Sejamos francos, o dinheiro roubado pelos larápios de colarinho branco é muito maior do que aquele que o Governo pretende tirar a fórceps do bolso da peãozada, como disse Gabas.

A corrupção é a grande doença social. Desde tempos imemoriais, ela impede o nosso crescimento e nos condena a permanecer eternamente deitados em berço esplêndido.

Portanto, é na caça aos corruptos e não aos aposentados que o Governo deve se concentrar.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Colégio Dom Bosco



A imagem abaixo é do Colégio Dom Bosco, outra das muitas casas de ensino de Porto Velho em que eu tive o privilégio de estudar. O Dom Bosco sempre foi uma instituição desejada por 10 entre 10 estudantes da época. Frequentei-o na década de 1960. Lá eu aprendi o que é disciplina.


Lembro-me até hoje do Padre Claudionor, o Conselheiro. Os conselhos dele eram os mais convincentes possíveis. Não sei como é que hoje eu ainda tenho orelhas. E. acredito mesmo que, se elas estão tão grandes hoje, é por consequência do que sofreram naquele período.

Quando não, imperavam os 'cascudos'. Sem falar na pior das hipóteses: ficar de castigo de joelhos no caroço de milho equilibrando uma grade de carteira (de ferro, tipo pé de máquina Singer antiga) no meio da quadra de esportes, bem diferente dos ginásios cobertos das escolas atuais.

Normalmente, esses castigos eram aplicados no período de meio-dia às duas da tarde, quando começava o período vespertino das aulas. Nesses dias, a gente não almoçava. Sem falar no veraozão de rachar. Bom lembrar que, na época, menino não sabia o que era calça comprida. Bermudões deixavam expostos os joelhos nus e crus a aguentar todo o rojão. Os castigos menos penosos eram escrever o Pai Nosso e a Ave Maria 200 vezes. Haja dedo!

Mas era gostoso estudar no Colégio Dom Bosco. Disponibilizava esportes para todos os gostos. Sempre fui perna-de-pau no futebol. Com uma raquete de pingue-pongue nas mãos, então, era um verdadeiro desastre. Mas tinha um esporte que eu gostava muito: o espiribol.

Uma bola pendurada por uma corda atada no alto de um mastro. Dois competidores. Cada qual fazia esforço para enrolar a corda e elevar a bola o mais alto possível. Quem conseguisse era, naturalmente, o ganhador da partida.

Hoje acho meio sem graça, mas na ocasião eu adorava. Não sei se por começar com espiri – espiribol – de Espiridião, mas, para mim, esporte bem estimulante.

Quem estudava no Colégio Dom Bosco, localizado nas ilhargas da Igreja Catedral, no Centro de Porto Velho, exalava disciplina por todos os poros. Cada um tinha uma caderneta que, dia após dia, era carimbada com o tradicional "Presente". Sábado era o único dia em que o carimbo não aparecia.

Isso, porque no domingo a presença era obrigatória. Não em sala de aula, mas na Catedral. A caderneta era carimbada ao ultrapassar o portal daquele imponente prédio de estilo gótico-romano para assistir à missa, que, na época, ainda era cantada em latim. "Dominus vobiscum", ou "O senhor esteja convosco". 

Na época, quase ninguém tinha carro para deixar e buscar aluno na porta do colégio. A gente ia era a pé mesmo. E pior eram as pisas por chegar sempre atrasado em casa por ficar, já no final da tarde, entretido com o futebol no campo do Flamengo. 

Tempos bons! A gente tinha pai e mãe. Hoje, pai e mãe viraram amigos. E abusados com os professores. Estes não podem nem olhar de cara feia para o filho. Logo são acusados de praticar preconceito, bulling e, sabe-se lá, mais o quê. Velhos e bons  tempos!